quarta-feira, 1 de junho de 2016

Bela, Recatada e do lar. 

Resumo 
Este artigo propõe-se a analisar o termo “Bela, Recatada e do Lar”, encontrado na publicação da revista Veja do dia 18/04/2016, o trabalho mostra como foi abordado o texto da publicação e apresenta reflexões discursivas no texto da matéria, e os vários discursos polêmicos, que se seguiram a partir desta publicação, como surgiram vários textos que discutem o discurso estabelecido e sedimentado por séculos a respeito do papel da mulher na sociedade. 
 Nosso objetivo consiste em desvelar como a análise de discurso Polêmico foi empregada nessa reportagem. Por isso, recorremos a perspectiva teórica da APL com base nos trabalhos de Orlandi (2005) sobre o apagamento.  

Palavra-chave: Análise do Discurso; Polêmico; discurso feminista; “Bela, Recatada e do Lar”. 

Abstract 
This article proposes to analyze the term "Beautiful, demure and Home", found in the magazine's publication See the day 04/18/2016, the work shows how the text of the publication was addressed and presents discursive reflections on the text of the matter and various controversial speeches that followed from this publication, as there were several texts that discuss the established discourse and sedimented for centuries about the role of women in society. Our goal is to reveal how the Controversial speech analysis was used in this report. Therefore, we used the theoretical perspective of APL based on the work of Orlandi (2005)about the forgetfulness. 

keyword: Discourse Analysis; Controversial; feminist discourse; "Beautiful, demure and Home." 



Introdução 
O nosso corpus de trabalho tem por finalidade analisar a reportagem publicada pela revista veja em 18/04/2016, com o tema “Bela, Recatada e do Lar”, referindo-se a Marcela Temer, esposa do presidente em exercício Michel Temer. 
Essa reportagem gerou uma enorme comoção de mulheres indignadas com essa frase machista e preconceituosa visto que deixa a entender que a mulher ideal deve ter essas qualificações, as quais algumas ou a maioria das mulheres tentam abolir, a análise está fundamentada em conceitos da Análise do Discurso de linha Francesa, usando como base o conceito de Eni Orlandi. 
Para isso dividiremos o artigo em três partes, a primeira parte será um pequeno resumo dos conceitos da Análise de discurso francesa; a segunda será um apanhado de algumas conquistas das mulheres no decorrer da história, a terceira a analise da reportagem e as considerações finais. 

Comecemos com um breve resumo do que consiste a análise de discurso 
A análise de discurso teve início na França em 1960 encabeçado por Michel Pêcheux, o objetivo da Análise de discurso, conhecida como (AD) é a contextualização entre o falante, ouvinte, o local de onde fala é o contexto sócio histórico. 
          A análise do discurso, como seu próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora as levem em consideração, ela tem seu foco do discurso. A palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim a palavra em movimento, prática de linguagem: como estudo do discurso observa-se o homem falando. (ORLANDI , 2001,p.15). 
A AD não considera a língua como uma forma neutra de ideológia e sim uma forma de interação. Para Orlandi (1986, p. 63) "[...] se considera que o que se diz não resulta só dá intenção de um indivíduo em informar outro, mas dá relação de sentidos estabelecidos por eles num contexto social e histórico”. 
Um elemento fundamental para AD é a Formação Discursiva (FD), que determina oque pode ou não ser dito dentro de um discurso. 
                 A noção de formação discursiva, ainda que polêmica é básica na Análise do Discurso, pois permite compreender o processo de produção dos sentidos, a sua relação com a ideologia e também dá  ao analista a possibilidade de estabelecer regularidade nos funcionamento do discurso. (ORLANDI, 2001,p. 43), outro conceito importante da AD é o sujeito, que apesar de ser livre seu discurso se constrói a partir do discurso do outro, com isso formando sua identidade ideologia. 
               A forma sujeito histórico que corresponde à da sociedade atual representa bem a contradição: é um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso. Ele é capaz de uma liberdade sem limites e uma submissão sem falhas: pode tudo dizer, contanto que se submeta à língua para sabê - la. Essa é a base do que chamamos assujeitamento. (ORLANDI, 2001, p.50). O conceito da AD utilizado no artigo é a Opacidade do Discurso, para identificarmos é preciso que analisemos o texto, imagem a fundo levando em conta quem fala para quem fala, de onde fala, levando em conta os aspectos histórico e social, "construir procedimentos que exponham ao olhar do leitor a opacidade do texto é a ação estratégica de um sujeito"(Pêcheux, 1988, apud Ferreira, 1998: 206). 

Começaremos linkando alguns marcos importantes nas conquistas das mulheres no decorrer dos anos. 
A luta pela igualdade entre homens e Mulheres teve início na década de setenta, iniciada pelas feministas daquela época, que lutavam por uma redemocratização do país, e por melhorias nas condições de vida e de trabalho. Já na década de 80 essa luta se amplifica para outros seguimentos como a política, sindicatos e associações comunitárias. Foi nessa época que as feministas conquistarão as primeiras vitorias, como a criação do Conselho dos Direitos da Mulher, a delegacia especializada sem atendimento a mulher e programas específicos de saúde e prevenção de abusos domésticos e sexuais.   
Até o ano de 1962 a mulher só podia trabalhar fora com a autorização do marido. Conforme uma liminar imposta pelo código civil de 1916, o que foi uma estagnação nos avanços dos direitos civis das mulheres. Ainda em 1916 para ter a proteção do casamento, o código civil estabelece o homem como chefe da família, ele que decidia onde morar com a mulher e os filhos e administrava as finanças da família. 
 Em1962 as advogadas Romi Medeiros da Fonseca (1921-2013) e Orminda Ribeiro Bastos (1899-1971) fizeram um texto reinvindicando a regularização dos direitos iguais entre homens e mulheres e enviaram ao congresso que foi aprovado em 27 de agosto 1962. O código civil foi modificado e as mulheres casadas passaram a ter a opção de trabalhar fora sem que para isso fossem obrigadas a pedir  autorização ao marido. 
Em 1977 foi assinada a lei do divórcio, onde só era possível em caso da morte de um dos cônjuges. 
Só então na Constituição de 1988 foi declarado a igualdade de direitos e obrigações tanto para os homens quanto para mulher.  
As mulheres conquistaram seus direitos no papel mais a realidade é bem diferente.  
Afinal uma lei pode ter uma vigência  imediata, mais mudar a mentalidade a cultura de um ser humano pode levar anos ou até décadas e mesmo assim não surtir efeito visto que já está araizado em sua visão sócio, histórico e ideológico. 

Analise da capa da Revista 
A partir dos conceitos da Análise do Discurso estudados até o presente momento, e o contexto da revista Veja, segue a análise:  
Imagem 

A capa da revista mostra a esposa do presidente em exercício Michel Temer, a foto de Marcela Temer, realmente mostra uma bela mulher, que segundo a reportagem se dedica a família integralmente, nos remetendo a um discurso, mais tradicional, machista, o momento em que a revista foi pulicada, também afirma este discurso, pois a revista mostra a Marcela como futura primeira dama, já que seu Marido poderia assumir a presidência, se a atual presidente Dilma, que é uma mulher, sofresse o impeachment. 
A capa gerou grande polêmica nas redes sociais e movimentos feministasmulheres furiosas, pelo discurso aparente dessa capa, que sugere que lugar de mulher é no máximo como primeira dama, de forma alguma a mulher deveria estar a frente do comando de um país, que a mulher esta muito bem como a mulher mostrada na foto, como ajudadora de um homem, somente cuidando de casa e da família, segundo o movimento feminista, o discurso da capa quer provocar um apagamento no discurso que as mulheres conseguiram com tanta luta ao longo dos tempos. 
Cada lado reforçando seu discurso, a partir de sua formação discursiva sócio-ideologica, a revista, com seus sujeitos sujeitados, no discurso tradicional e machista, e as feministas as sujeitadas ao discurso pregado pelas mulheres que não se conformam com o papel que há muito tempo lhes foi entregue, ambos defendendo sua ideologia e confecções, carregadas dos ensinamentos de seu convivo social. 

Considerações finais 
Utilizando os conceitos da AD; Formaçãdiscursiva, sujeito, e Opacidade do Discurso, foi possível constatar que na reportagem da revista veja tem mais coisas não ditas do que nós parece a primeira vista. Visto que ao dizer que que em pleno século 21 a mulher deve ser bela, recatada e do lar, estando sempre a trás do homem, não do lado ou a frente; ao afirmar isso está apagando toda uma bagagem sócio, histórico ideologico encabeçado pelas feministas décadas atrás. 
Podemos concluir então que a indignação das mulheres a respeito da Frase: Bela, recatada e do lar, apesar de ter sido um uma conduta realizada antigamente pela maioria das mulheres por falta de opção ou por uma imposição da sociedade, tem um histórico de mudança que não começou agora que vem de vários anos atrás e que não podemos esquecer. 
Não podemos esquecer que quando essa reportagem foi realizada a primeira presidente melher estava sofrendo o impeachment, oque deixava implícito que esse não é um cargo para mulher ou seja que a mulher não tem competência para comandar um cargo de presidência de um país. 
Outro ponto que podemos levar em conta é que nos novos ministérios do atual presidente não tem uma mulher. 
Independente de quanto as mulheres são eficientes, independente, esse rótulo vai sempre estar presente de alguma forma para nós lembrar de como somos vistas por uma parte da sociedade masculina. 
Afinal, decretar uma lei é mais simples que mudar a visão sócio histórico e ideológica do indivíduo. 

REFERÊNCIAS 
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise do discurso:princípios e procedimentos. 3.ed.Campinas: Pontes, 2001